Pular para o conteúdo principal

O Rádio e a Olimpíada

O espetáculo midiático que, a um mês dos Jogos Olímpicos, amanheceu traduzido em números pelas páginas do jornal “Valor Econômico” encontrou seu reverso ao entardecer, quando se soube do surrupio de dois contêineres de uma tevê alemã. Nessa sexta-feira que inaugurou o mês de julho e mostrou a velocidade do pêndulo pela qual se podem medir nossas contradições, o tabloide que circula encartado na edição de fim de semana maior jornal de economia cravava na capa: “O maior espetáculo da Terra”. Que não é o carnaval das escolas de samba. Os números da matéria são ciclópicos: vinte e cinco mil jornalistas credenciados, audiência estimada em 5 bilhões de pessoas ao redor do mundo, uso de tecnologia avançada – como imagens de 8K. Em evento tão imagético, pensado e organizado para a televisão, que papel cabe às emissoras de rádio que adquiriam direitos de transmissão neste naco midiático? A pergunta se estende a outros eventos televisivos que não somente os de esporte; e, pela dimensão dos Jogos Olímpicos, há novas questões que merecem ser analisadas. Como o desafio a que se propôs o Sistema Globo de Rádio, ao reservar duas frequências – uma no Rio, outra em São Paulo – para dedicar-se integralmente à cobertura da Olimpíada. Se todas as 42 modalidades olímpicas, mesmo aquelas que despertam pouco interesse ou soam exóticas, cabem na tela de televisão, sua adaptação para a linguagem do rádio é problemática, quando não impossível. E, no Brasil, o rádio reflete a monocultura do futebol na predileção da massa. Num passado mais remoto, transmitiam-se basquete, vôlei, natação, turfe e fórmula-1 (estas duas últimas não são olímpicas). Num passado mais recente, emissoras que já se restringiam somente a futebol e automobilismo deixaram de lado a fórmula-1 (exceto as do Grupo Bandeirantes de Comunicação), pelo alto custo dos direitos de transmissão e pelo desinteresse dos brasileiros pelo esporte, carente de ídolos nacionais desde a morte de Ayrton Senna, há mais de duas décadas. A televisão oferecerá uma avalanche de opções: no Brasil, sete emissoras, sendo três abertas e quatro fechadas, dedicarão centenas de horas de transmissão. As tevês fechadas terão mais de um canal para transmitir o maior número possível de modalidades. Isso sem falar nos sites, nos aplicativos e nos incontáveis programas especiais sobre o megaevento. Nesse cardápio copioso, que mágica pode fazer o interessado pela Olimpíada, e não somente pelo futebol olímpico, preferir o rádio – ou ao menos conjugá-lo com a imagem, como fazem os que viveram o auge do rádio esportivo e não o abandonaram quando as tevês passaram a fazer a mesma coisa? A linguagem radiofônica – “quente”, como classificou Marshall Mcluhan, mais dinâmica e emocionante – tem de constituir-se com alternativa. Ao que se deve juntar o intenso e instantâneo trabalho de prestação de serviço, tão importante quanto as competições, uma vez que os jogos serão aqui, com significativas mudanças na rotina da cidade e de seus moradores – sobretudo quando esta cidade passa por problemas gravíssimos que lhe afetam a imagem internacional – e logística complexa para chegar aos locais de competição e sair deles. A informação útil não deve estar circunscrita às emissoras do Rio de Janeiro. Com a mobilidade do rádio ampliada pelos aplicativos para smartphone e pelas páginas da internet, turistas nacionais que virão à cidade poderão orientar-se pelas suas emissoras prediletas ou por aquelas que lhes são mais próximas por motivos geográficos. Trata-se de uma estratégia para fidelizar a marca. Ainda assim, o tamanho do desafio é proporcional à capacidade do rádio de, mesmo presente na vida do brasileiro, como atestam pesquisas recentes, mimetizar o que outros meios farão de modo sedutor. 
Por: Bruno Fillippo Jornalista e sociólogo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Campeonato Espanhol pode ser adiado por problema em contrato com TV

A temporada 2009/ 2010 do Campeonato Espanhol poderá ser adiada por problemas no contrato de transmissão da liga de futebol do país. Os clubes vieram a público reclamar da redução dos acertos audiovisuais junto às detentoras dos direitos de exibição do prestigiado torneio europeu. O Campeonato Espanhol tem início previsto para o dia 29 de agosto. Os contratos de transmissão entre as emissoras e os clubes do país caíram de cinco para três anos. Em sessão extraordinária, a liga pediu "respeito" na mudança e disse que a alteração não leva em conta as peculiaridades do mercado do futebol. A liga teme que a redução dos prazos contratuais implique em danos às receitas dos clubes, abastecidas em grande parte com os investimentos das TVs. As equipes do Espanhol ameaçam ainda tomar medidas cabíveis para honrar os compromissos com as emissoras de televisão do país. Fonte: Agência EFE

Rony Magrini anuncia volta à Nova Morada

Rony Magrini em post da Nova Morada O comunicador Rony Magrini, 61, anunciou que estará de volta aos microfones da rádio Nova Morada, em 1260AM, a partir da próxima segunda-feira (25). Magrini apresenta o programa "Bom Dia, Morada", de segunda à sexta-feira, às 6h. O radialista precisou se ausentar das atividades radiofônicas depois da necessidade de realizar um procedimento para retirada da próstata. A descoberta de fragmentos de câncer foi revelada durante entrevista do comunicador ao radialista Thiago Matheus no programa "Expresso Nova Morada". Durante entrevista que falou sobre a recuperação, Rony Magrini relembrou todo o diagnóstico e deu detalhes sobre o pós operatório. Na ausência do comunicador, a atração diária foi comandada por André Costa. O jornalista e radialista de 34 anos também passa a fazer parte da equipe de profissionais da Nova Morada. Acompanhe este bate-papo exclusivo!

Três anos sem o "sábio Chinês" Juarez Soares

        Juarez foi homenageado pela ACEESP em 12/2016  -  Foto: Marcos Júnior/Portal TT Há  três anos o jornalista Juarez Soares nos deixou, mas a sua obra está marcada para sempre nas rádios e emissoras de tv que trabalhou em quase 60 anos de profissão.  O jornalista Anderson Cheni  lembrou do amigo que estava na emissora em 2019  e prestou a homenagem em nome de todos do Departamento de Esportes que tem o comando de Oliveiro Júnior, que por anos trabalhou com Juarez na TV Bandeirantes no saudoso "Show do Esporte".  O Giro final terminou com um poema de Juarez e o depoimento da filha Ana Júlia que também é jornalista. Um simples, mas emocionante para lembrar de um dos grandes nomes do jornalismo esportivo, salve o eterno sábio "  chinês ".   Juarez Soares Moreira nasceu em São José dos Campos, na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, no dia 16 de julho de 1941. Filho de Adolfo Soares Moreira e Josefina Soares Moreira, formou-se em Pedagogia na Facul